segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

103kg apreendidos em 8 meses

Diante do prognóstico de existirem entre 25 mil e 30 mil dependentes somente em Fortaleza, os trabalhos de repressão policial são considerados tímidos. Em 2012, houve mês em que menos de um quilo da droga foi retirado de circulação em Fortaleza. Procurada, Secretaria da Segurança silencia

Nos discursos políticos e da cúpula da segurança pública cearense, há anos ele é apontado como a principal causa do descontrolado inchaço nos indicadores de violência. Virou até nome de política pública do Governo Federal, com o lançamento do programa “Crack, é possível vencer”, em 2011. Mas tem sido retirado de circulação de forma tímida no Ceará.

De janeiro a agosto deste ano, as polícias Militar e Civil apreenderam apenas 103,35 quilos da droga em todo o Estado, sendo 41,02kg na Capital e 62,33kg nos demais 183 municípios. Uma média de 12,8kg mensais. Os dados constam nos relatórios da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) publicados na Internet. Eles não contemplam os trabalhos da Polícia Federal. O POVO solicitou estatísticas à PF, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria, ontem à noite.

Esses 103kg de crack representam um número 32% maior do que os 78kg recolhidos no mesmo período do ano passado. A marca também supera os 100kg de todo 2012. Números diminutos diante do diagnóstico da Central Única das Favelas (Cufa) de existirem, só em Fortaleza, entre 25 mil e 30 mil usuários de crack. Cada um, conforme o presidente nacional da entidade, Francisco José Pereira de Lima, o Preto Zezé, queima 12 pedras por dia, em média.

Isso significaria até 36 mil pedras de crack consumidas diariamente na Capital. Como cada uma pesa cerca de 0,02 grama, segundo estimativas da assessoria da Delegacia Geral de Polícia Civil, o universo pintado pela pesquisa da Cufa indicaria cerca de 7,2kg de droga queimada a cada 24 horas em Fortaleza. Ou 216kg por mês. Ou ainda 1.728kg de janeiro a agosto. Algo bem distante dos 41,02kg apreendidos na Capital nos oito primeiros meses de 2013.

Segundo a assessoria da Polícia Civil, os números constantes nos relatórios da SSPDS correspondem ao apurado de todas as delegacias do Estado. São 139, sendo apenas uma especializada no combate ao narcotráfico. Em 2012, houve mês em que menos de um quilo de crack foi apreendido na Capital. Neste ano, a maior apreensão aconteceu em agosto: 13kg.

O titular da SSPDS, Servilho Paiva, não quis se pronunciar. Procurada pelo O POVO, a PM argumentou que são as polícias Civil e Federal quem fazem as grandes apreensões. “A nossa é pontual. A Civil é quem levanta os pontos e os principais traficantes. Ela é quem sabe de onde vem a droga”, ponderou o relações públicas da PM, tenente-coronel Fernando Albano. Mas a Polícia Civil também não quis comentar a denúncia.

“O discurso do Estado é falho. Ele associa as altas taxas de homicídios ao uso de droga, especialmente ao crack, mas a apreensão é mínima. Algo está errado. Se você tem uma quantidade enorme de usuários e a demanda é elevada, o crack é um produto encontrável em qualquer boca de fumo. A apreensão é pouca por falta de estratégia. Há um descompasso entre a política de apreensão com a de saúde para o dependente etc”, critica Marcos Silva, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC).

Serviço
Para denunciar de pontos de venda de crack:
Onde: rua do rosário, 199, 2º andar, Centro de Fortaleza
Telefones: 3101 7359 ou 3101 7357 ou 190

Saiba mais

O POVO tentou falar com a Polícia Civil durante toda a última semana. A assessoria primeiramente informou que o titular da Delegacia de Narcóticos (Denarc), Pedro Viana, concederia entrevista. Depois, alegou impossibilidade de ele falar.
 
Justificativa similar foi dada meses atrás, quando O POVO acionou a assessoria para a mesma pauta e adiou a produção para quando tivesse dados consolidados e algum membro da Polícia Civil que pudesse comentar o caso. Nem as estatísticas foram divulgadas por completo nem ninguém posicionou-se.
 
A assessoria chegou a prometer uma nota oficial da Polícia Civil na última sexta, 13. Porém, não encaminhou resposta até ontem.
 
O POVO também tentou falar com o secretário Servilho Paiva. A assessoria solicitou à reportagem que encaminhasse perguntas por e-mail. Os questionamentos foram enviados. O POVO recebeu a seguinte resposta: “Não foi possível responder as suas perguntas. Em breve, será realizada uma coletiva para divulgar a nova metodologia para a confecção dos dados estatísticos da SSPDS. Entre esses dados, estão os relativos à apreensão de drogas. Na ocasião, o secretário Servilho Paiva concederá entrevista”.

Perguntas sem resposta

Questionamentos feitos ao secretário Servilho Paiva:
Quais cenários o senhor encontrou no tocante ao crack quando assumiu as secretarias da Paraíba e de Pernambuco? O que fez lá e o que pretende fazer aqui para amenizar a situação ?

O senhor vê ligação direta entre crack e homicídios?
Se o problema maior dos homicídios no Ceará é o crack, como disse várias vezes o governador e ex-comandantes da nossa PM, por que se apreende tão pouco aqui?

Como reverter um quadro tão tímido de apreensão de crack? Qual meta o senhor coloca para a sua gestão no tocante à contenção do tráfico e à redução de assassinatos?
 
Por qual motivo as estatísticas criminais do Ceará demoram a ser divulgadas?
Fonte: O Povo

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