quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ataques a ônibus: uma história de vinganças entre traficantes


A guerra entre traficantes por territórios onde o poder público perdeu o controle pode ser a causa dos ataques e incêndios a ônibus em Fortaleza. Uma sequência de mortes e vinganças é uma das linhas de investigação


Pelo menos duas linhas de investigação sobre os atentados a ônibus em Fortaleza estariam sendo trabalhadas pelos serviços de inteligência das secretarias da Segurança Pública e da Justiça do Ceará. A primeira: uma suposta investida do Primeiro Comando da Capital (PCC). A outra: uma ofensiva da quadrilha do traficante Henrique Sousa Monteiro, 29, contra a Secretaria da Justiça do Ceará (Sejus). Henrique pode ser mais um personagem de um rosário de mortes seguidas de vinganças entre inimigos dos bairros Barroso e São Miguel.

Recolhido à Delegacia de Narcóticos (Denarc) e transferido à Unidade Penal Agente Luciano Andrade Lima, em Itaitinga, Henrique do Barroso foi torturado até a morte, no último domingo, 16. Ele vinha recebendo ameaças de morte. E, por ser considerado alto risco, deveria ter sido transferido para uma penitenciária federal.

Quem estaria interessado na execução de Henrique do Barroso? Investigações do serviço de inteligência das secretarias da Segurança e Justiça apontariam para uma velha disputa que se arrasta há pelo menos 15 anos entre territórios dominados por traficantes inimigos do Barroso e São Miguel. O assassinato de Henrique seria para vingar a execução de dona Maria Edileuza Ferreira Lima, eliminada com cinco tiros na cabeça no dia 28 do mês passado.

Maria Edileuza, como O POVO informou com exclusividade, morava na comunidade da Mangueira, no São Miguel e era mãe de três rapazes envolvidos com o tráfico de drogas e homicídios. Dois deles, Francileudo (15/4/88 a 19/4/13) e Edineudo Ferreira (6/3/81 a 3/11/06), foram emboscados e assassinados por rivais do Coqueirinho – facção que tinha negócios com Henrique do Barroso. O terceiro filho de Maria Edileuza, conhecido por “Pequeno” (Erineudo Ferreira), está em um presídio em Itaitinga e seria o responsável, segundo as investigações, pela vingança da mãe.

De acordo com levantamentos do setor de inteligência da SSPDS e Sejus, Henrique do Barroso, traficante ligado ao Coqueirinho, teria sido o articulador da eliminação de Maria Edileuza. Ele também é apontado como um dos responsáveis pela morte de Francileudo Ferreira, morto com dez tiros, quando saía do Fórum Clóvis Beviláqua, em abril do ano passado. Francileudo, segundo as investigações, teria matado um irmão de Henrique do Barroso.

Após a morte de Francileudo, O POVO foi até a comunidade da Mangueira e conversou com Maria Edileuza. Ela, que se dizia pequena empresária do ramo da pesca, denunciou que estava sendo ameaçada de morte. Dez meses depois, no último dia 27, Edileuza seria morta na calçada de sua casa.

A vingança teria se dado no último domingo, quando Henrique do Barroso foi encurralado em um banheiro no presídio em Itaitinga. A maneira cruel como foi morto por inimigos revoltou integrantes da quadrilha que ele comandava. Daí a onda de incêndios a ônibus e um atentado à Secretaria da Justiça. Os aliados de Henrique estariam considerando que o ex-parceiro foi levado para a morte.
 
Sejus
O POVO entrou em contato com a secretária da Justiça, Mariana Lobo. A assessoria de imprensa disse que ela não falaria sobre o caso. As informações colhidas pela Sejus estavam sendo repassadas à SSPDS. Em nota, ela afirmou que a transferência de Henrique para o presídio foi conseguida pelo advogado do traficante por meio de ordem judicial. Ontem, o secretário Servilho Paiva disse ao O POVO que os ataques poderiam estar ligados à morte da “mãe de um traficante”.

O Povo

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